segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Aonde eu vim parar?


Certas vezes a gente esquece a que veio, não é mesmo? Quem nunca abriu a geladeira e esqueceu o que queria? Quem nunca teve que fazer uma pausa na conversa para lembrar o que estava falando no instante anterior? E quem amigos, quem nunca parou para pensar na sua própria vida e o rumo que ela tomou? É um tanto chateador, ou talvez revigorante olhar para trás e pensar nos planos que você fez e ver onde você está e o que conquistou.

Quando eu era criança a primeira coisa que quis ser na vida foi ser dona de uma locadora. Por quê? Porque tinha uma na rua da minha avó que era da mãe de umas colegas do colégio e era fantástica. Um mundo lá dentro que eu não sabia de onde vinha. Meu avô tinha um vídeo k7 na época, mas eu não tinha permissão de retirar fitas, somente os adultos. Era simplesmente mágica aquela locadora, eu imaginava que as gurias passavam o resto do dia depois da escola vendo os mais variados filmes de graça. Como isso me encantava tanto eu queria ser dona de uma um dia. Com o tempo esse desejo foi passando e nem sei quando ele foi substituído.

Já na adolescência o auge eram as brincadeiras escritas de estope e para descobrir o futuro e os testes de revistas. Saiba se ele te nota na escola? Descubra se você é uma boa amiga?  Seu signo tem a ver com o dele? Nesta fase as brincadeiras previam nossa vida conforme nossos desejos. Tinha uma que marcávamos a idade com que queríamos casar, se seriamos ricas, pobres ou milionárias e se teríamos um, dois ou cinco filhos. A meninada conhecia bem esses papinhos, era típico da idade, entrar madrugada adentro com as amigas na noite do pijama.

Foi na adolescência que decidi que queria ser jornalista. Todas as tardes ouvia meu programa favorito, o Na Paz, com Márcio Paz na Atlântida, hoje locutor na POP Rock. A afinidade dele com a rádio e sua ligação com um público que ele nem via, o ato de levar só alegria para as pessoas, porque música é alegria, a energia de se apresentar algo para milhares de pessoas em diferentes situações, tudo isso eu achava o máximo. Sem falar que o rádio em si me prendia. Depois do colégio e de assistir alguns desenhos, minha companhia era o rádio, onde sem eu procurar me vinha também informação.

Logo descobri que ser locutora de rádio não era um futuro tão promissor e com um pensamento utópico em uma fase da vida que se conhece por ser rebelde, eu queria poder mudar o mundo. A ideia era de toda boa, fazer o que eu podia para tornar as coisas diferentes, a política, as pessoas, a sociedade. Era um grande desafio e como eu já tinha arrumado meu quarto achava que era possível mudar o mundo. Então percebi a ligação de um jornalista com o rádio e o poder de transmitir informação que ele tinha. Quer coisa melhor? Ter contato com um número grandíssimo de pessoas e assim ajudá-las a fazer um mundo melhor.

Passei no vestibular de jornalismo em 2006 e no ano seguinte comecei a faculdade. Nas duas primeiras cadeiras que fiz uma professora, a Malu, Mestre e Doutora em comunicação, leu apenas um capítulo do livro Minhas histórias dos outros, de Zuenir Ventura, que dizia o que está inclusive no rodapé deste blog: “Não viemos à terra para julgar, nem para prender ou condenar, viemos para olhar e depois contar. Não somos juízes, não somos promotores, somos jornalistas, somos testemunhas de nosso tempo, uma testemunha crítica, não necessariamente de oposição, mas implacavelmente crítica.” Ao fim da leitura da professora eu tive certeza que tinha feito a escolha certa.

Lembro que meu primeiro dia de aula da faculdade foi na terceira semana do semestre, pois nas anteriores estava terminando minhas aulas de auto escola e faltei, mas três colegas aparentemente “patricinhas”, me convidaram para sentar com elas, achei acolhedor e fui, nós quatro fazíamos jornalismo e formamos um grupo de amigas unidas há cinco anos. Hoje em dia, porém somos só duas jornalistas, uma migrou para o direito e a outra para publicidade.

Os anos de faculdade, que ainda não acabaram, trouxeram novos conhecimentos, desmistificaram ideias, apresentaram possibilidades, pessoas, novidades e muito, mas muito aprendizado, além é claro de muitos contatos. Além das aulas teóricas, das práticas em estúdios e dos trabalhos em grupo algo bem importante que era feito eram os encontros na lancheria da universidade, no bar da frente, no xis, no DCE, ah, como era bom, mas nada disso ocorre mais, pelo menos não comigo. Não há mais intervalos porque os alunos preferem tocar direto para sair mais cedo e ir para casa dormir, não tem mais o DCE, não tem mais batatas fritas no Fratello porque a fila é grande no caixa e não dá para esperar porque tem conteúdo importante na aula.

A vida tomou um rumo onde não se tem mais tempo para fazer intervalos, não se pode mais colocar o despertador dez minutos no soneca porque dez minutos depois a BR116 já está trancada. Eu me pergunto como, como a vida ficou assim? Em que momento eu parei de ouvir o Márcio Paz de tarde? Por que faço tantas outras coisas se o que eu queria era estar no lugar ou ao lado do Alemão Vitor Hugo de manhã na Ipanema? Por que ninguém me perguntou se eu queria estar onde estou? Sei que foram escolhas, mas escolhas que foram acontecendo e tomando um rumo diferente do que eu tinha planejado. E minha casa na serra? E meu carro aos 18 anos? As coisas mudam e a gente nem percebe. Você mesmo passa a gostar de coisas que antes não gostava, passa a fazer coisas que nunca imaginava fazer e isso não é ruim, mas é simplesmente outra vida que quando você compara o que planejou e o que está acontecendo parece nem ser a mesma pessoa a mesma vida.

É muito difícil seguir a risca qualquer planejamento, pois você nunca sabe as surpresas que a vida pode te trazer. Nada nunca é certo, tudo tem possibilidade de ser modificado até efetivamente acontecer. E na vida? E a gente? Como conduzir nossos passos rumo aos nossos objetivos sem se desviar? Eu tento, mas confesso que às vezes não consigo. Gostaria de ter comprado meu carro aos 18 anos, de já ter me formado e tantas outras coisas, contudo entendo que isso tudo não aconteceu não porque não me esforcei ou corri atrás, simplesmente porque ainda não era o momento de acontecer. Apesar de lamentar, de certa forma, esses desvios “involuntários” da vida, ao mesmo tempo sei que eles contribuíram diretamente para o que sou e o que tenho hoje. Graças aos desvios da vida aos 17 anos encontrei a outra metade da minha laranja, o que nunca imaginava acontecer tão cedo, mas Deus já havia predestinado para mim.  

A vida passa muito rápido. Lembro-me, em flashs, de quando meu pai me erguia com uma mão só para que eu alcançasse o teto, eu devia ter uns 4 anos. No próximo mês eu completo 24 e não estou onde eu pensava que estaria. Meu pai hoje coloca minha sobrinha de quase 3 anos na palma da mão para alcançar o teto, e eu? Eu meus queridos, eu subo no beliche e encosto no teto sozinha, eu dirijo vários carros, mas nenhum é meu, eu assisto filmes a hora que eu quiser na TV a cabo. Ainda tenho vontade de mudar o mundo, mas hoje sei que existe um sistema difícil de se mudar, e o que posso fazer é desligar a torneira e fazer um trabalho de formiguinha. Ano que vem me formo Jornalista e minha próxima faculdade será Cinema, destino? Talvez.