quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sala 306

Sempre achei que terapia era coisa pra gente que fica meio perdida no vácuo. Gente que fala sozinha e não sabe o porquê da sua própria existência, mas involuntariamente me rendi a essa experiência. Faz tempo que tomei essa decisão. Optei por conversar com um estranho porque não sabia mais diferenciar os conselhos bons e ruins das minhas amigas. Meus pais sempre foram atenciosos, mas eu tinha 17 anos e não queria que eles se preocupassem comigo.

Não costumo falar de mim aqui. Não acho que esta seja a proposta, mas recentemente vi o filme e li o livro Divã da Martha Medeiros que me relembrou algumas coisas importantes na vida. Aos 17 anos sofri muitas mudanças, no corpo, na mente e em tudo. Passei a ter de ser mais responsável, iniciei meu primeiro emprego, entrei na faculdade e tive a mais terrível decepção amorosa.

Passei a ter emoções diferentes das que já havia tido antes e tudo isso acontecia normalmente no mesmo lugar: na sala 306 da Clínica em que trabalhava. Lá, recebi a notícia de que passei no vestibular, avisei meus pais que tinha passado na prova da auto-escola, descobri que não era a única na vida do cara que eu gostava, briguei com amigas, muitas vezes chorei, contei segredos, rimos, fizemos terapia em grupo, fui informada de perdas de amigos e por último, fui tomada pela decisão de abandonar o barco. Lá, na sala 306 vivi grandes momentos, bons e ruins que me levaram a fazer uma busca de mim mesma.

Passei a fazer terapia para saber outra opinião sobre mim, pois a minha eu já não sabia mais e a das minhas amigas eram muito previsíveis - apesar de serem muito carinhosas. É estranho falar sobre isso, mas foi tão valiosa a experiência que me auxiliou a ser mais sensível e a desabafar. Não me permitia errar e quando errava me achava a última das criaturas. Não me permitia chorar e quando chorava me fazia-me engolir o choro. Não me permitia sofrer por besteiras, mas mesmo assim sofria. A ideia de descobrir como me achar e ter paciência comigo mesma passou a ser um exercício, um teste, um desafio que aos poucos fui descobrindo que era mais fácil do que eu pensava.

Nunca me faltou nada, graças a minha família e amigos sempre tive tudo que precisei , a necessidade de ficar sozinha, de renovar os ares e ouvir coisas diferentes foi relevante para formar o que sou hoje. Isso tudo não faz tanto tempo, mas só assim, aprendendo a analisar cada situação, foi que aprendi a ter paciência, juízo e confiança. É legal relembrar de tudo isso, pois são ciosas que ficam apenas na memória. Se aquelas paredes falassem teriam muito a dizer sobre as diferentes emoções que lá vivi.

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